quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Uma mulher.

existe muita beleza em tudo isso. olhamo-nos um ao outro, pupilas dilatadas, esquecidos. você dista de mim o exato comprimento de uma vida inteira. seus cabelos são mais curtos do que eu quereria, mas você não se ajoelha a mim, não, não. e se se ajoelha é por me ver fazer o mesmo. observo a sua mão que domina o movimento preciso de lançar-se ao mundo. seu sorriso é torto, com aquelas sacanagens que só quem viu e viveu é capaz, e a curva da sua bochecha cabe perfeitamente na curva da minha mão: ó quão semelhante estás.
eu te amo, minha irmã impossível, minha história mal contada. eu te amo, minha filha não gestada.
aproximo-me de ti com vontade de explorá-la, milimetricamente juntada por peles e dentes e ossos. seus olhos olham como meus olhos e seus seios me acusam como indicador algum acusou antes. meus dedos se aproximam do seu braço, que antes de tudo parece tão meu. já vi essa marca, já vi essa cicatriz… seus peitos mantém a acusação, e seu sorriso torto me entorta. passeio pelos teus vales e pelos, teus bens e teus males. eu já te vi algum outro dia? ou já caminhamos as mesmas veredas - e nos desencontramos em cada bifurcação? seu sorriso me lembra o meu sorriso e se teus peitos me acusam, te acusam os meus. e se seu pinto se desvia para a esquerda, é por confundir-se com aquele que é o meu.
eu te amo, minha indissociável. eu te amo, minha oposta. eu te amo, minha mesma. eu te amo, eu mesmo.

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