quinta-feira, 11 de abril de 2013

Velhice

Hoje me olhei no espelho e me vi velho. O rosto era o mesmo: mesmo cabelo bagunçado, mesma barba por fazer, mesmos olhos, boca e nariz. Mas todos velhos. Como se o tempo que eu não vivi franzisse o meu cenho e arqueasse as minhas costas. Todas as minhas experiências e inexperiências decidiram manchar-me a pele e tingir-me os dentes. Os meus primeiros passos, aquela verruga na ponta do queixo. As brincadeiras de infância com meu primo, as manchas pretas em minhas mãos. A minha primeira briga, as unhas longas e opacas. O meu primeiro beijo, aquela banguela. O meu primeiro amor, as pernas arqueadas. Meus pais, minha irmã, minha família, meus amigos, minhas conquistas, minhas derrotas, meus movimentos, meus desejos, minhas frustrações, meus conhecimentos, minha ânsia e meu vômito, tudo me marcando o corpo, tornando-me mais velho, mais sábio.

E após assistir no espelho a uma vida de 18 anos que parece se estender por 100 – parte por vivências, parte por angústias – você é o trecho que me envelhece mais. Você, que ao meu lado rejuvenesceu-me tantas vezes e com tanto prazer agora é a parte pior do meu delírio. Você é as minhas dores de velhice. Você, que comparada com a minha maioridade centenária não equivale a algumas estações, é as minhas dores de velhice, vinda em ondas. Aguda. Sofrida. Imobilizadora.

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