Infelizmente, o dia não
pode prever tempo. As nuvens tomaram o céu de assalto, sufocando as manhãs e
proibindo o luzir. Hoje era dia de escuro e o dia não sabia. Tentou lutar
contra esses nimbos obstáculos. Buscava um rasgo nas nuvens para que pudesse
pelo menos ver as coisas terrenas e talvez iluminá-las um tanto, um pouco: uma
rajada de sol, uma lembrança da sua presença exilada.
Passavam horas e nada de
luminar. A noite já se aproximava, lentamente, inevitável, para desespero do
dia-fim de tarde. Às quatro em ponto, começou a chorar seus sonhos despedaçados
em gotas, baixinho, fino. Sentia-se deitar nas árvores, nos homens, nos
prédios, sem os ver e sem ser visto. Minuto a minuto, esvaziou-se sobre a terra,
temeroso da morte.
A Natureza, mãe atenta,
ouvindo o choro moroso do diminuto dia, decidiu fazê-lo belo nos momentos
finais, um vestido mortuário de se lembrar sempre. Expulsou os nimbos com
ventos de ordenança e pintou o céu de fúria, sonho e calor - azul, roxo,
laranja, vermelho. As lágrimas chovidas do quase posto brilhavam diamantes na
ponta das gramas verdes, dos cachos multicor das moças, das casas
marrom-suburbano, sobre o asfalto úmido e sobre os carros prateados; disputavam
apenas com o brilho de estrelas impossíveis que se apresentaram e da lua, que
deixou de lado suas intrigas com o sol poente para poder mais iluminar o
enterro.
O dia, deitado em seu
caixão num cortejo de mil luzes, sorria. Nos últimos minutos conseguiu ser
inesquecível para todos que o viveram. E foi assim, partindo lentinho,
saboreando, descolorindo o céu de preto, puxando para si o manto estrelado da noite
que vinha lhe sepultar.
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